terça-feira, 19 de julho de 2011
Carta pra Ninguém...
Chega uma hora que tudo aquilo que encanta acaba. Morre. Some. É uma pena, é lamentável! Podia ter sido tão legal, podia ter dado tão certo. Eu tinha certeza, dessa vez eu não me enganaria assim...Logo eu? Malandra de milhas e milhas...hahahaha quanto engano.
EU SEI BEM.
Há um motivo para dizer que eu seria mais feliz sozinha.
Não foi porque eu pensei que seria mais feliz sozinha.
Foi porque eu pensei que se eu amasse alguém...
E depois acabasse.
Talvez eu não conseguisse sobreviver.
É mais fácil ficar sozinha.
Porque, e se você descobrir que precisa de amor?
E depois você não o tem?
E se você gostar?
E depender dele?
E se você modelar sua vida em torno dele?
E então...
Ele acaba.
Você consegue sobreviver a essa dor?
Perder um amor é como perder um órgão.
É como morrer.
A única diferença é...
A morte termina.
Isso...
Pode continuar para sempre.
by ACT.
Lembro me que não entendia muito bem qual a relação entre uma galinha e o fato de uma menina ter beijado alguns meninos na boca, mas logo fui apresentada à definição que não consta noAurélio:
Galinha s.f.Menina amiga de muitos meninos que comete o ultraje de ficar com dois garotos do mesmo grupinho e que, segundo as más línguas, permite a um ou mais deles passar a mão nas proximidades dos seus peitinhos que começam a brotar tais quais pequenas laranjinhas.
Seu nome era Gabriela. Eu gostava dela. Não me interessava muito o que ela fazia fora dali – mas o rótulo de “galinha” assumiu sua antiga identidade. Antes que eu me desse conta, me peguei também olhando-a e imaginando como conseguia ser tão lasciva. Por causa de sua nova identidade, Gabriela foi excluída das rodas das meninas e os meninos cada vez se aproximavam, sempre com as mesmas brincadeiras cheias de duplo sentido. A partir daí, concluí que não queria ser uma puta.
Pernas cruzadas
O fantasma da puta me assombrou durante toda a adolescência. O mesmo acontecia com minhas amigas. Ninguém queria ser vista como fácil e a regra era: mesmo se estiver com vontade, cruze as pernas. Ficar com dois meninos da sala, jamais! Da escola, só se ninguém mais soubesse. As mãos mal-intencionadas dos meninos com hormônios explodindo tinham que ficar longe das nossas bundas e de nossos projetos de peito. Eram as regras básicas.
Fui crescendo e, apesar das regras terem evoluído, ainda via o fantasma da puta assombrando minha vida e a vida das mulheres ao meu redor. Agora o papo era outro e envolvia questões do tipo: “se estiver com vontade de dar no primeiro encontro, vá embora e bata uma sozinha em casa”, “se gostou muito, não ligue”, “não fique com mais de um cara no trabalho”, “sexo anal desmoraliza a mulher”, “ser safada na cama assusta os homens”. Se ele sumia do mapa, sempre tinha a amiga pra dizer:
— Não disse? Você foi fácil demais.
Quem ditava as regras eu não sei dizer, mas elas existiam como parte de um manual invisível para não se tornar “mal-falada”.
Quando comecei a questionar o que queria da vida, me toquei que as regras do tal manual invisível não passavam de balela. Mas constatei que ele fez parte da minha adolescência e ditou, de certa forma, minha forma de me relacionar com os homens.
Um puta peso de puta
Conversando sobre esse assunto com uma amiga, escutei-a confessar, cheia de remorso, sobre o dia em que, durante uma festa, deu para um cara de quem nem sabia o nome. Foi, usando suas próprias palavras, a melhor foda de sua vida. Mas depois ficou sabendo que o cara espalhou para os amigos que tinha transado com ela na lavanderia da casa. Eis que o fantasma da puta novamente entrou em cena: escutei-a dizer – podendo jurar que via um princípio de lágrima querendo brotar nos seus olhos – que se arrependeu horrores de ter sido tão puta naquele dia, que não queria se sentir assim nunca mais na vida.
Fiquei me perguntando qual a fonte do arrependimento dela – porque se o sexo tinha sido bom e se ela tinha sentido prazer, o sofrimento pós-foda não poderia ter vindo de motivações pessoais. E aí entendi o peso que o rótulo da puta exerceu sobre a vida de nós todas, reprimindo vontades e não nos permitindo ser quem realmente éramos.
Hoje, posso dizer que esse fantasma não me assombra mais. Basta refletir um pouco para perceber que não há nada negativo em gostar de sexo, querer ter experiências com várias pessoas e se permitir transar da forma que o corpo pede. Hoje, sinto pena pelos desejos reprimidos e por todos os gozos que ainda virão a ser censurados. Deixar que a puta que existe dentro de nós assuma o controle de vez em quando é necessário – e delicioso. Como sabiamente já dizia Caio Fernando Abreu, “um dia de monja, um dia de puta”.
por Jaque Barbosaem 17/07/2011